Macron sugere que Brasil não deve explorar petróleo da Margem Equatorial – o que a França faz
Presidente francês critica projeto brasileiro enquanto multinacional sa Total perfura poços na mesma região
247 – O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nesta terça-feira (10) que a exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira "não é boa para o clima". A declaração foi feita durante sua participação em um programa de TV especial sobre a Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano (Unoc3), em Nice, no sul da França. O pronunciamento foi motivado por um vídeo do cacique Raoni Metuktire, de 93 anos, em que o líder indígena pede apoio internacional para barrar o projeto brasileiro, segundo reporta a Folha de S. Paulo.
A fala de Macron, contudo, expõe uma gritante contradição: ao mesmo tempo em que tenta dar lições de moral ao Brasil em nome da preservação ambiental, seu próprio país patrocina, por meio da petroleira Total Energies, a exploração de petróleo na mesma Margem Equatorial — só que do lado da Guiana sa e do Suriname. A Total Energies é uma das maiores operadoras de petróleo offshore do planeta e mantém ativos relevantes na região, exatamente onde o Brasil estuda avançar em perfurações.
Apesar de afirmar que não deseja "dar lições" ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Macron declarou que “não é bom para o clima” que o Brasil explore petróleo na foz do Amazonas. “Acho que seria bom que ele [Lula] fizesse isso [suspendesse o projeto], mas não cabe a mim dar lições a ele. Também tenho muito respeito por todos esses países, para que haja um diálogo Norte-Sul, para que sejam incentivados a abandonar esses projetos e lhes permitir ter outras formas de criar crescimento nos seus países”, disse o presidente francês.
A tentativa de parecer diplomático, no entanto, esbarra nos próprios atos da França. Embora Macron tenha mencionado uma moratória em vigor na Guiana sa, em fevereiro deste ano o governo do primeiro-ministro François Bayrou anunciou a intenção de "reabrir o debate" sobre a perfuração de poços. Ou seja: enquanto sugere que o Brasil pare, seu governo se move para retomar a exploração na sua própria região amazônica — uma postura que soa, no mínimo, como hipocrisia ambiental.
Macron também elogiou Lula por seus esforços para conter o desmatamento. “Lula fez muito. É preciso ver de onde saímos, e eu entendo suas limitações. Ele fez muito para conter o desmatamento que havia sido iniciado por seu antecessor. Está em um país que também tem obrigações. Precisa conseguir desenvolvimento e lutar pelo clima”, afirmou. No entanto, o próprio presidente francês não ofereceu qualquer alternativa econômica concreta ao Brasil, nem criticou a atuação da Total Energies em território vizinho.
No vídeo que antecedeu a fala de Macron, o cacique Raoni fez um apelo direto: “Meu querido amigo Emmanuel Macron, envio-lhe esta mensagem para que diga aos outros chefes de Estado que protejam os oceanos. Não quero exploração de petróleo na foz dos rios ou no fundo dos oceanos, então ajudem-me a impedir esses projetos. ei a mesma mensagem a Lula e queria ar a você também. Conheço esse projeto de perfuração no delta do Amazonas e pedi a Lula que o impedisse. Agora, peço o mesmo a vocês e peço que cuidem dos rios. Como sabem, muitas pessoas vivem nas margens dos rios e serão muito afetadas”.
Macron, que já se encontrou com Raoni em diversas ocasiões e o condecorou com a Legião da Honra em março deste ano, usou parte de sua fala para criticar o ex-presidente Jair Bolsonaro pelas ameaças sofridas pelos povos indígenas. “Foram anos muito difíceis, quando o presidente Bolsonaro ameaçava a reserva onde o cacique vive com seus povos indígenas e ameaçava fazer desmatamento”, afirmou.
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