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A outra guerra comercial que preocupa a China

Aprofundamento da guerra de preços pode desencadear uma onda de fusões, aquisições hostis e falências na indústria automobilística chinesa

(Foto: Xinhua)
Redação Brasil 247 avatar
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Por Fernando Capotondo 

O governo chinês enfrenta uma queda nos preços da indústria automobilística que, segundo autoridades, decorre de manobras especulativas que favorecem a concorrência desleal e ameaçam o crescimento do setor. Trata-se de um embate direto entre a mão visível do Estado e a "invisível" do mercado.

"Numa guerra de preços não há vencedores nem futuro", foi a definição usada pela China para responder às ameaças tarifárias dos Estados Unidos. Meses depois, a frase voltou a ecoar em Pequim, quando o Ministério da Indústria e Tecnologia Informática denunciou que a recente redução de preços no setor automotivo chinês era, a seu ver, uma manobra especulativa que pode comprometer o valor agregado da economia do maior produtor de veículos do mundo.

Longe de ser atribuída a um jogo ideal de oferta e demanda, a queda nos preços dos veículos de nova energia (VNE) é considerada o início de uma série de "práticas desleais", o que acendeu alertas na segunda maior economia global.

O primeiro sinal de alarme veio da Associação de Fabricantes de Automóveis da China (CAAM), que lançou um apelo urgente para "evitar a concorrência destrutiva" e uma "guerra de preços" no crescente mercado de veículos elétricos e híbridos.

De fato, no primeiro quadrimestre de 2025, o setor de VNE representou mais de 42,7% do total de carros novos vendidos, com um aumento anual de produção de 48,3%, alcançando 4,43 milhões de unidades. Em outro cenário, esses números seriam celebrados. Mas, segundo a CAAM, a guerra de preços resultou em uma "redução sensível da rentabilidade".

Contra monopólios - “A continuidade dos investimentos é essencial para garantir e aos produtos e impulsionar a inovação. No entanto, as guerras de preços estão perturbando gravemente as operações das empresas, ameaçando a estabilidade das cadeias industriais e de fornecimento, e arrastando todo o setor para um círculo vicioso”, afirmou a entidade.

A associação empresarial alertou que as recentes reduções de preços — iniciadas em 23 de maio por um grande fabricante e seguidas por outros — causaram pânico no mercado. A empresa não foi citada nominalmente, mas sabe-se que se trata da BYD, que aplicou descontos de até 34% em mais de 20 modelos (o Seagull, mais barato, caiu para 55.800 yuans, cerca de US$ 7.800).

Para a CAAM, essas guerras de preços não apenas reduzem margens de lucro e enfraquecem o serviço, como também ameaçam a segurança dos consumidores e comprometem a saúde da indústria.

“Todas as empresas devem seguir os princípios da concorrência leal, e as líderes não devem tentar esmagar o espaço de atuação de outras com o objetivo de obter monopólio”, declarou a CAAM, em comunicado divulgado pela agência Xinhua.

“Ao lado de ajustes legais nos preços”, concluiu a entidade, “as empresas não devem vender abaixo do custo, recorrer a práticas enganosas ou manipular o mercado de forma a prejudicar os interesses da indústria e dos consumidores”.

Estado em alerta - Em resposta, o Ministério da Indústria e Tecnologia Informática (MITI) prometeu “reforçar a supervisão e garantir um ambiente mais justo e ordenado” para o mercado automotivo, que em 2024 produziu 31,28 milhões de veículos — crescimento de 3,7% em relação ao ano anterior.

Para atingir esse objetivo, o MITI anunciou medidas que incluem a modernização da estrutura industrial, fortalecimento das inspeções, combate à concorrência desleal e restrições a monopólios.

Segundo o ministério, combater as “reduções desordenadas de preços” não significa impedir que empresas reduzam custos ou melhorem a qualidade e rentabilidade dos produtos. Pelo contrário. O foco é impedir competição predatória que reduza investimentos, degrade a qualidade e ameace a segurança dos consumidores. “Numa guerra de preços não há vencedores nem futuro”, reiterou um porta-voz do ministério.

Em busca do chamado “desenvolvimento saudável da indústria automotiva”, o porta-voz do Ministério do Comércio, He Yongqian, descreveu a competição como “feroz” e anunciou maior supervisão e retificação do mercado para preservar um ambiente competitivo justo.

“Trabalharemos para eliminar gargalos e obstáculos que restrinjam a circulação e o consumo de automóveis”, disse He, relembrando programas de incentivo e troca de veículos testados nos últimos anos.

Efeitos colaterais - Um dado preocupante é que metade dos cerca de 150 fabricantes automotivos da China detém menos de 0,1% de participação no mercado. O aprofundamento da guerra de preços pode desencadear uma onda de fusões, aquisições hostis e falências, com consequências imprevisíveis para a economia chinesa, segundo analistas internacionais.

“Algumas montadoras já estão em situação financeira crítica”, alertou Wei Jianjun, presidente da Great Wall Motors, comparando o cenário da indústria ao colapso da Evergrande no setor imobiliário.

“A pressão sobre os preços está afetando toda a cadeia de fornecimento, com fornecedores obrigados a cortar custos, o que pode comprometer a qualidade final dos veículos”, afirmou Wei à plataforma financeira chinesa Sina Finance.

Do outro lado do mercado, a rede norte-americana CNBC informou que a recente decisão da BYD de cortar drasticamente os preços agravou as tensões, provocando queda nas ações das principais montadoras e alimentando o temor de que empresas mais frágeis não em a pressão.

Os efeitos já se fazem sentir na bolsa: a BYD registrou queda de 8,6% em suas ações, a Geely Auto caiu 9,5%, e a Nio — apelidada de “Tesla chinesa” — e a Leapmotor sofreram perdas entre 3% e 8,5%, conforme dados da plataforma iX Broker.

Sem dúvida, esta é a outra guerra comercial que inquieta as autoridades chinesas. Daí o arsenal de medidas anunciadas para corrigir rumos, ordenar o setor e promover o “desenvolvimento saudável” de uma das indústrias mais estratégicas e inovadoras do país. É a mão visível do Estado — como poderia dizer qualquer observador atento, parafraseando um britânico de sobrenome Smith.

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