Paulo Pimenta diz que problema do governo Lula "não era e não é a comunicação"

247 – Em entrevista ao O Globo, publicada nesta sexta-feira (13), o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) Paulo Pimenta defendeu seu trabalho à frente da pasta e afirmou que a queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode ser atribuída a falhas na comunicação. Para o deputado federal do PT-RS, o principal desafio enfrentado pelo governo está na intensa polarização política, impulsionada pelas redes sociais e por uma extrema direita “combativa, orgânica, violenta”.

“Aquilo que dificulta o índice de aprovação do governo não é a falta de políticas públicas, é o ambiente de polarização que o país vive”, disse Pimenta. Segundo ele, a comunicação pública, ao contrário da publicidade comercial, enfrenta resistências constantes: “Na política, a cada iniciativa, você tem uma reação. E hoje em dia, uma reação potencializada pelas redes sociais”.

Ao fazer um balanço dos meses em que esteve no comando da Secom, Pimenta relatou os obstáculos práticos de sua atuação. Entre eles, destacou medidas como a taxação de compras internacionais de até US$ 50 — conhecidas como “taxação das blusinhas” —, que não estavam previstas em seu planejamento e exigiram respostas urgentes. “Essa situação obriga a uma ação permanente de reação e de defesa do governo”, explicou. “Boa parte do meu trabalho foi construir uma narrativa de disputa na sociedade, ocupando a imprensa, sendo para-choque para que a crítica não chegasse ao presidente”.

Pimenta também comentou a necessidade de a comunicação institucional estar mais integrada ao planejamento estratégico do governo, especialmente diante de temas sensíveis: “Todos nós, quando conversamos, concordamos que antes de lançar um programa, é preciso fazer um trabalho de planejamento que permita que a comunicação se antecipe aos fatos. Esse é o ideal. Mas a vida real acaba sendo mais dramática e mais dinâmica”.

Ao ser questionado sobre a decisão de Lula de substituí-lo na Secom, o ex-ministro afastou qualquer mágoa. “O problema do governo não era e não é a comunicação. Esse sempre é um atalho para não mergulhar e procurar resolver, de fato, questões estruturais”, afirmou. Segundo ele, o presidente sempre esteve ciente de seu perfil técnico e político, e não publicitário: “Eu não sou um marqueteiro. O senhor trabalhou com o João Santana, trabalhou com o Duda Mendonça, porque se a busca é de um perfil publicitário, essa pessoa não sou eu”.

Pimenta também rebateu críticas ao slogan “O Brasil voltou”, usado na primeira fase do atual governo. Segundo ele, a proposta visava dialogar diretamente com a base social que elegeu Lula. “Nunca existiu esse debate [de que o slogan criava uma falsa expectativa]. Nosso objetivo, ao final do primeiro ano, era reduzir a polarização”, disse. Para o ex-ministro, a comunicação começava a dar resultados no fim de 2023, com índices de aprovação crescendo em todas as áreas.

Sobre a licitação da área digital, que não avançou durante sua gestão, Pimenta explicou que o processo foi cuidadosamente estruturado e avaliado por órgãos de controle, mas enfrentou questionamentos burocráticos. “Talvez desse ferramentas que o governo não dispõe”, avaliou, mencionando que mesmo pequenas prefeituras já adotam comunicação segmentada mais moderna.

Ao final da entrevista, ele fez uma avaliação das mudanças ocorridas desde sua saída. Para Pimenta, o foco atual está mais na forma e na apresentação do presidente nas redes sociais, com pouca alteração no conteúdo da política de comunicação. E concluiu com uma projeção otimista: “Os números do governo têm tudo para melhorar e o Sidônio tem toda a capacidade de fazer com que isso possa acontecer”.