"A globalização está morta", diz Michael Hudson
Economista norte-americano defende o resgate do modelo protecionista e critica a ilusão neoliberal de Trump e seus aliados
247 – Em entrevista concedida ao professor Glenn Diesen, o economista Michael Hudson — um dos mais influentes pensadores heterodoxos da atualidade — fez uma contundente crítica à ordem econômica global baseada no livre comércio e declarou que "a globalização está morta". Hudson resgatou o papel do nacionalismo econômico na formação dos Estados Unidos e explicou por que, segundo ele, o modelo neoliberal adotado nas últimas décadas esgotou-se como paradigma de desenvolvimento.
Ao abordar a origem das ideias nacionalistas na economia, Hudson destacou o papel central de pensadores como Alexander Hamilton, Henry Clay e Friedrich List. "Desde o início do século XIX, os Estados Unidos compreenderam que a industrialização era a base da soberania nacional", afirmou. Ele lembrou que os primeiros líderes políticos americanos viam com clareza a necessidade de criar um sistema financeiro e industrial próprio, livre da dominação britânica. Essa tradição, segundo o professor, foi deliberadamente apagada dos currículos universitários para impedir que outros países seguissem o mesmo caminho de desenvolvimento.
Hudson explicou que a chamada "Escola Americana de Economia Política" defendia tarifas protecionistas, investimento público em infraestrutura e a criação de bancos nacionais voltados para o financiamento produtivo, em contraste com o modelo britânico, centrado na especulação financeira. "O objetivo era reter metais preciosos no país e fomentar a indústria nacional com crédito e energia barata", disse. Esse modelo, segundo ele, foi posteriormente adotado por países como a Alemanha, o Japão e a Rússia, em diferentes períodos de sua industrialização.
Ao comentar a política econômica do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Hudson foi categórico: "Trump fala a linguagem do nacionalismo econômico, mas na prática está promovendo a busca por renda e a concentração monopolista". Para o economista, as tarifas defendidas por Trump são apenas um instrumento retórico. "Ele não quer reconstruir a infraestrutura pública, nem romper com a lógica predatória do setor financeiro. Seu objetivo real é eliminar o imposto de renda para os grandes doadores de campanha", criticou.
Segundo Hudson, uma verdadeira política de reindustrialização exigiria não apenas tarifas, mas também o resgate do investimento público em educação, saúde e transporte, além de um sistema bancário voltado para o crédito produtivo. Ele relembrou que nos EUA do século XIX, canais, ferrovias e universidades foram desenvolvidos com apoio estatal. "Serviços essenciais eram vistos como monopólios naturais e deveriam ser oferecidos a preços baixos ou gratuitamente", explicou.
No encerramento da entrevista, Hudson advertiu que a atual tentativa de retomar a industrialização sem romper com a lógica neoliberal está fadada ao fracasso. "A globalização está morta, e o mundo precisa de um novo modelo baseado na soberania produtiva", afirmou. Para ele, revisitar a história da economia industrial é um o fundamental para se construir uma nova arquitetura global mais justa e autônoma. Assista:
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