Nunca foi sobre a tiazinha do zap
O objetivo sempre foi outro: proteger Bolsonaro, sua família e os asseclas mais próximos
Tive o desprendimento – ou seria, a paciência de assistir a todo o depoimento de Bolsonaro ao STF. Meu objetivo era entender qual linha de discurso ele adotaria para se comunicar com sua base. Ledo engano.
Tirando o inacreditável convite feito por Bolsonaro a Alexandre de Moraes para ser seu vice numa chapa inexistente, todo o depoimento teve um único foco: tentar reduzir os anos de pena que ele sabe que deve enfrentar ao final do processo. O que o depoimento escancarou de vez foi a farsa da suposta preocupação dos altos escalões bolsonaristas com a “tiazinha do zap” ou a “moça do batom” - presas pelos atos terroristas e golpistas de 8 de janeiro.
Não me lembro de Bolsonaro ter feito, em qualquer momento, uma única defesa pública dos que foram usados como massa de manobra e acabaram presos por atacar as sedes dos Três Poderes. Pelo contrário, ele mesmo se referiu à sua horda como “malucos”. Não houve uma palavra de solidariedade, muito menos um gesto de acolhimento.
As convocações para as manifestações - amplificadas pelo megafone de Silas Malafaia - nunca foram para defender os “malucos” presos. O objetivo sempre foi outro: criar uma cortina de fumaça para proteger Bolsonaro, sua família e os asseclas mais próximos. Mais uma vez, o gado sendo usado como escudo para interesses pessoais.
O mesmo vale para os projetos de anistia que tramitam no Congresso. O que está em jogo ali não é a defesa de uma multidão desavisada - é a busca de um habeas corpus preventivo para o ex-presidente. O cinismo de transformar os “camisas-amarelas” em casamata para blindar seus próprios interesses se espalha pelos corredores, comissões e salões azul e verde do Congresso Nacional.
Ao tornar seus reais objetivos tão evidentes, o depoimento deixou claro até por ele mesmo: a vaca já foi para o brejo. Tanto Bolsonaro quanto seus advogados transmitiram a nítida sensação de que já “entubaram” a inevitável condenação. O corpo fala, e neste caso, falou alto.
Essa “entubada”, aliás, deve acelerar as decisões do clã sobre as eleições do próximo ano. E é aqui vai uma especulação: a candidatura de Tarcísio de Freitas ao Planalto pode ter subido no telhado. Por quê? Porque Bolsonaro não confia em ninguém - nem na própria sombra. Logo, depois de se sentir traído por figuras como Roberto Jefferson, Carla Zambelli e agora Mauro Cid, tudo indica que ele vai querer alguém com o sobrenome Bolsonaro na cabeça de chapa.
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