Indo à Caxemira…e encontrando Alice no País das Maravilhas
Bem-vindos ao “o senhor do Mundo” vai ao País das Maravilhas – ao som daquele hipnótico riff de “Kashmir”
Dois amplos tabus reinam sobre o – agora destroçado – Ocidente Coletivo:
1. Não conseguir definir o regime da Ucrânia como nazista.
2. Não conseguir condenar o psicopatológico genocídio israelense em Gaza.
Esses tabus estão inextricavelmente ligados às Guerras Eternas incessantemente desencadeadas pelo Império do Caos/eixo sionista.
Guerras Híbridas de menor monta, entretanto – mesmo implicando a horripilante perspectiva de virem a se nuclearizar – são deixadas à solta. Principalmente se elas fazem parte da atual guerra aos BRICS, uma subseção da guerra de facções do Ocidente contra a Maioria Global.
Vamos, portanto, à Cachemira – ao som do hipnótico riff de Jimmy Page. Tanto a Índia quanto o Paquistão vêm escalando a guerra de decibéis. A Turquia oferece as armas – ao Paquistão. Irã se ofereceu como mediador. Ninguém aceitou.
O motivo da guerra é o mais suspeito possível. Um ônibus de turistas, todos do sexo masculino levando um bando viajantes animadíssimos eia pela Caxemira sob controle da Índia. Entre os ageiros, há um tenente da Marinha Indiana de 26 anos, recém-casado – embora desacompanhado de sua mulher (que lua de mel é essa?) Um outro ageiro é nepalês. O ônibus é atacado por um obscuro bando de capangas separatistas frouxamente filiados ao grupo salafi-jihadista Lashkar-e-Taiba.
O Império está por toda a parte no front indiano. A atual Diretora de Inteligência Nacional dos Estados Unidos (DNI) Tulsi Gabbard antes era totalmente financiada pelos círculos do Primeiro-ministro Modi. O vice-presidente J.D. Vance, com seu delineador de olhos, visitou a Índia recentemente – cumprindo até mesmo o ritual da foto de família em frente ao Taj Mahal. Então, Modi visitou a Arábia Saudita – a convite de MbS. Após o ataque terrorista ao ônibus em Caxemira, fanáticos Hindutva partiram para uma onda de ciberataques.
As táticas toscas falam do clássico Dividir para Dominar. Golpe duplo: uma nova versão da armamentização da Índia e a desestabilização de uma frente importantíssima da Iniciativa Cinturão e Rota (ICR) chinesa: o Corredor Econômico China-Paquistão (EC). Uma obra-prima: dividir os BRICS de dentro para fora.
Nada disso, é claro, legitima os horrendos militares paquistaneses, que jogaram na cadeia, sob acusações espúrias, o homem que vinha tentando trazer respeitabilidade ao Paquistão: Imran Khan.
Mais uma vez, cabe aos adultos na sala, qualquer sala – a Rússia – desescalar. Essa tarefa, em termos ideais, ocorreria no âmbito da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) – da qual tanto a Índia quanto o Paquistão são membros, juntamente ao Irã. Moscou optou por tomar ela própria a iniciativa.
O Chanceler Adjunto Andrey Rudenko se encontrou tanto com o Embaixador da Índia na Rússia, Vinay Kumar, quanto como Embaixador paquistanês na Rússia, Muhammad Khalid Jamali.
A terminologia russa é essencial: não houve apenas uma conclamação para que ambas as partes se “engajem em um diálogo construtivo”. Moscou ressaltou que “estamos prontos a enfrentar juntos a ameaça terrorista global”. O termo operativo é “global”. Delhi e Islamabad parecem não estar captando a mensagem – ainda.
A Caxemira como um volátil laboratório de guerra
Como seria previsível, uma máquina infernal foi ligada. É como se o eixo anglo-sionista estivesse usando a Caxemira como um laboratório volátil para uma série de testes ao vivo – incluindo empurrar potências nucleares até às beiras da confrontação. E tudo isso tratado com uma despreocupação irresponsável – praticamente como uma atração secundária.
Nada que venha do Sultão Erdogan e de seu aparato de inteligência pode ser visto como confiável. Na Síria, os agentes da MIT – os Cortadores de Cabeças S.A. congregados no Grande Idlibistão – acabaram instalados no poder em Damasco, com seu chefe de gangue amigo dos sionistas agora posando de presidente.
A junta compradora yankee de Islamabad, de sua parte, talvez esteja se vendo cara a cara com o abismo – notícia que se qualifica como auspiciosa. Paralelamente, cresce o suspense quanto a se Modi irá ou não dar as caras na parada do Dia da Vitória, em 9 de maio, em Moscou – e o que ele dirá a seus anfitriões russos.
Os membros dos BRICS Rússia e Irã querem que, o quanto antes, o Corredor Internacional de Transporte Norte/Sul (CITNS) esteja funcionando normalmente. O jogo se torna ainda mais complexo quando vemos que a investigação iraniana está finalmente começando a aceitar a hipótese de a horrenda explosão no porto Shahid Rajaee ter sido um ato de sabotagem ou um ataque de FPV.
Colocar ainda mais pressão sobre a China é uma real motivação para a montagem desse laboratório de guerra. Agora, Pequim não apenas tem que começar a se preocupar com a repetição explosiva do front Índia-Paquistão, mas também com novas provocações por parte do CIA/MI6 incentivando a conexão entre os paquistaneses e os salafi-jihadistas uigures.
Não há a menor chance de Delhi vir a realmente entender as dificuldades geopolíticas de Pequim. Cenário perfeito para a gangue da Guerra Híbrida.
Enquanto isso, no front dos BRICS, pelo menos, há sinas de algum grau de racionalidade – vindos, mais uma vez, do Grão-Mestre Lavrov.
Mesmo antes do encontro dos Chanceleres dos BRICS de inícios desta semana no Rio, Lavrov foi direto ao ponto no front financeiro e geoeconômico. Ele ressaltou que os BRICS vêm trabalhando vigorosamente na “Iniciativa de Pagamentos Transfronteiras” aprovada em 2024 na cúpula de Kazan; em uma infraestrutura de “pagamentos e liquidação”, em uma “empresa de resseguros” e em uma nova plataforma de investimentos.
Ele, mais uma vez, teve que explicar à mídia ocidental – dos Estados Unidos ao Brasil – que “seria prematuro discutir uma transição para uma moeda única para os BRICS. Estamos trabalhando conjuntamente para criar uma infraestrutura de pagamentos e liquidação para efetuar pagamentos transfronteiras entre os países dos BRICS. Em particular, como eu já disse antes, isso inclui aumentar a participação das moedas nacionais em nossas transações”.
Uma moeda comum dos BRICS – espectro que ronda o Trump 2.0 – só voltará à mesa “quando as condições financeiras e econômicas necessárias estiverem colocadas”. Até lá, a guerra aos BRICS, híbrida ou não, continuará implacável.
Trumpty Dumpty
ando da realidade à fantasia, foi divertidíssimo encontrar a conexão entre Caxemira e Alice no País das Maravilhas … em um ensaio chinês.
É necessária a suprema finesse chinesa – subvertendo a sabedoria taoísta com um toque de pós-modernismo – para identificar “o senhor do mundo” (sua própria terminologia) jogando a todos, virtualmente a todo o planeta, no buraco do coelho.
Nessa selva de espelhos narrativos, portanto, Trump deve ser percebido como uma combinação de todos os personagens: o Coelho Branco, Humpty Dumpty (“Quando eu uso uma palavra, ela significa exatamente aquilo que quero que signifique, nem mais nem menos”), o Chapeleiro Louco, a Rainha de Copas (“Cortem-lhe a cabeça!”)
O que, sem dúvida, ilustra a intersecção da guerra comercial (desencadeada pelo “senhor do mundo”) e da guerra genocida (plenamente legitimada pelo “senhor do mundo”). Com um truque a mais: a realidade tem um jeito de ser ainda mais esquisita que próprio Lewis Carroll.
Entra em cena o curioso caso do USS Truman, um gigantesco porta-aviões repentinamente possuído pelo espírito de Ayrton Senna e lançando-se a uma fechadíssima curva como se fosse um Maserati Gran Turismo Stradale bem no meio do Mar Vermelho – só para um F-18E Super Hornet protestar contra a manobra e mergulhar de cabeça no fundo do oceano.
Pelo menos essa foi a narrativa vendida pelo Comando Central dos Estados Unidos (CENTCOM) à opinião pública global. A culpa é daqueles malditos mísseis houthi!
Bem, o CENTCOM vem sendo implacavelmente humilhado pelas Forças Armadas do Iêmen – 21 MQ9-Reapers foram esmagados, e o número continua subindo – enquanto zero objetivos militares são alcançados. O Pentágono não conseguiu conter os houthis, não garantiu “liberdade de navegação” no Mar Vermelho para navios rumando a Israel. Sua vingança: incessante bombardeio de civis iemenitas.
E tudo isso porque o “senhor do mundo” começou uma guerra ilegal – contra gente guiada por clareza moral e espiritual – para proteger o genocídio perpetrado pelos seus amiguinhos de regime psicopatológicos. Bem-vindos ao “o Senhor do Mundo” vai ao País das Maravilhas – ao som daquele hipnótico riff de “Kashmir”.
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